Revitalização dos ambientes participativos e interactivos na educação bilingue em Moçambique através do translanguaging e do cross-cultural learning

  1. Absolone Chambo, Gervásio
Dirixida por:
  1. Fernando Ramallo Fernández Director

Universidade de defensa: Universidade de Vigo

Fecha de defensa: 23 de xullo de 2018

Tribunal:
  1. Melissa G. Moyer Presidente/a
  2. Xoán Paulo Rodríguez Yáñez Secretario/a
  3. Feliciano Chimbutane Vogal
Departamento:
  1. Tradución e lingüística

Tipo: Tese

Resumo

Esta tese explora as práticas pedagógicas de translanguaging (García 2009, Creese & Blackledge 2010, García & Wei 2014) e as de collateral learning e cross-cultural border (Jegede 1995, 1999, Jegede & Aikenhead 1999, Aikenhead & Jegede 1999, Aikenhead 2001, 2006) com o objectivo de revitalizar, por um lado, os ambientes participativos e interactivos dos alunos e, por outro lado, os níveis de flexibilidade e dinamismo do processo de ensino-aprendizagem de Ciências Naturais nas classes de pós-transição do programa transicional em Moçambique. Nas primeiras três classes antes da transição (1ª, 2ª e 3ª classes), os alunos aprendem em ambientes de alta participação e de interacção que proporcionam flexibilidade e dinamismo do processo de ensino-aprendizagem em L1. Porém, quando ocorre a transição da L1 para a L2 na 4ª classe, os alunos não mais participam activamente no ensino-aprendizagem em L2 senão através de estratégias de participação passiva e disfarçada (silêncio, murmúrio, voz baixa, coro, repetição, terminação de palavras e respostas fechadas “sim/não”) sob insistência e persistência dos professores. Os alunos apresentam baixos níveis de proficiência e de competência interaccional em L2 (bilingues emergentes) (García et al. 2008, García & Kleifgen 2018) e não têm a autonomia de participar e a interagir livremente em L1 senão sob indução dos professores. A política linguística-pedagógica vigente no ensino-aprendizagem e nas classes de pós-transição apregoa o princípio de separação das línguas através da maior exposição da L2 e da evitação do uso da L1. A pesquisa desenvolveu-se com base no método de pesquisa-acção participativa (Stringer 2007, McNiff & Whitehead 2006 e 2010) em duas fases (I e II fase), envolvendo 15 professores, 170 alunos de 6 turmas da 4ª classe e 4 escolas de educação bilingue EPC´s (duas escolas (EPC´s de Acção Inovadora), uma EPC de Crítica e Validação e uma EPC de Controle). Os ciclos de práticas pedagógicas de translanguaging, collateral learning e cross-cultural border desenvolveram-se nas EPC´s de Acção Inovadora sob monitoria das práticas pedagógicas em L2 observadas na EPC de Controle. A I fase da pesquisa desenvolveu ciclos de práticas pedagógicas de translanguaging nas quais, a L1 foi, gradualmente, introduzida nas escalas de 20-25% e de 30-50% nas aulas em L2 (I etapa). Os alunos envolvidos nesta fase tinham dois trimestres de experiências de ensino-aprendizagem baseadas nas práticas pedagógicas em L2. Na II etapa, desenvolveram-se simultaneamente as práticas pedagógicas de translanguaging na escala de 30-50% de L1 nas aulas em L2 e as de collateral learning e cross-cultural border (incorporação dos fundos de conhecimentos socioculturais no ensino-aprendizagem) em turmas cujos alunos transitavam de um ensino-aprendizagem em L1 para um ensino-aprendizagem baseado nas práticas pedagógicas propostas nesta II fase. Os resultados de ambas as fases ilustram que as práticas pedagógicas de translanguaging e as de collateral learning e cross-cultural border superam as estratégias de participação passiva e disfarçada dos alunos na medida em que motivam a participação voluntária, espontânea, competitiva, construtiva e flexível dos alunos em L1 e em L2 (práticas discursivas de translanguaging). Os alunos conceptualizam e interpretam os conteúdos da ciência, constroem os conhecimentos académicos e/o científicos a partir dos seus fundos de conhecimentos socioculturais (práticas pedagógica de collateral learning e cross-cultural border) bem como a partir da L1 e de ambas as línguas. Nestes ambientes, os alunos aprendem facilmente os conteúdos da ciência, desenvolvem, por um lado, a proficiência e as competências interaccional e metalinguística bilingues a partir da L1, das práticas pedagógicas de translanguaging, do bilinguismo dinâmico (García 2009, García & Wei 2014) e flexível (Creese & Blackledge 2010) e, por outro lado, as competências cognitivas, académicas e científicas transculturais a partir de visões policêntricas dos conteúdos da aula. A pesquisa conclui que a optimização dos ambientes participativos e interactivos dos alunos bilingues emergentes e a flexibilidade e o dinamismo do ensino-aprendizagem nas classes de pós-transição dependem sobremaneira da: (i) re-valorização e liberalização linguística (discursiva), académica e pedagógica da L1 e da L2 nas aulas; (ii) inclusão dos fundos de conhecimentos socioculturais locais diante dos conteúdos da ciência e (iii) da centralização das aulas nos alunos. Neste contexto, os professores tornam-se mediadores linguísticos, culturais e pedagógicas que, a partir de práticas pedagógica e discursivas de translanguaging e incorporação dos fundos de conhecimentos socioculturais locais nas aulas de Ciências Naturais encorajam a participação dos alunos bilingues emergentes na aprendizagem crítica e construtiva dos conteúdos da ciência nos ambientes transculturais e de bilinguismo dinâmico e flexível.